Jorge Jesus, Jesualdo Ferreira, Abel Ferreira, António Oliveira e (possivelmente) Paulo Sousa. Nos últimos anos, não foram poucos os treinadores de futebol portugueses que desembarcaram no Brasil. O caminho inverso pode não ser tão comum hoje em dia, mas é um brasileiro que terá a missão de alavancar a seleção portuguesa de futebol de cinco (para deficientes visuais), que não se reunia desde 2005.

Há pouco mais de um ano, a coluna trouxe a história do paraibano Márcio André Ferreira, técnico de futebol de cinco que está desde junho de 2019 em Portugal. Na ocasião, ele revelou o sonho de comandar a seleção do país onde vive. Sonho que se tornou realidade no início de dezembro, ao ser anunciado pela Associação Nacional de Desporto para Deficientes Visuais (Anddvis) como treinador da equipe portuguesa da modalidade.

Os objetivos, é claro, são levar Portugal a um campeonato mundial e à Paralimpíada, quem sabe já em Paris (França), em 2024. O caminho, porém, é longo. A seleção masculina, por exemplo, trabalha neste momento com um universo inferior a 30 jogadores. Para comparação, mais de uma centena de atletas disputaram o último Campeonato Brasileiro de futebol de cinco. O Brasil, vale lembrar, é a maior potência da modalidade, com cinco títulos mundiais e cinco paralímpicos, sendo o mais recente em Tóquio (Japão).

“Ainda estamos muito atrás, mas temos boas ideias e ideias vindas do Brasil também. Tenho o pensamento de preparar um curso com os técnicos da seleção brasileira, o Fábio [Vasconcelos], que é um grande amigo, e da Argentina, o Martin Demonte, que me ajudou também. Temos em vista uma competição em Estocolmo [Suécia], em junho, reunindo equipes emergentes. Em 2023, pretendemos disputar o Campeonato Europeu B e tentar subir de divisão para chegarmos ao Europeu A”, contou Márcio, à Agência Brasil.

Disseminar o futebol de cinco em Portugal e auxiliar na formação de novas equipes é um dos trabalhos do paraibano. Ele treina o Sport Clube Conimbricense, de Coimbra, que até pouco tempo era o único representante da modalidade no país. De acordo com Márcio, um time está sendo formado no Clube Atlético Cultural (CAC), de Lisboa, inclusive já fornecendo atletas à nova seleção.

“Existem indícios de formação em um clube no Porto [o CCD, sigla para Casa da Cultura e Desporto dos Trabalhadores da Santa Casa da Misericórdia do Porto]. Fui ajudar nesse início. Tendo três clubes, conseguimos fazer uma liga nacional. Também deve ter a formação de um time em Braga. Ainda vou para lá ajudar a estruturar, organizar, conhecer e ver se há condições de arrancarmos com a equipe ou pelo menos a prática da modalidade”, explicou o treinador, acreditando que o movimento pode incentivar agremiações tradicionais de futebol a aderirem a modalidade.

“O [Futebol Clube do] Porto é um polo do paradesporto e já apoia o futebol para deficientes intelectuais. É uma tendência desenvolverem o futebol de cinco. O Sporting [Clube de Portugal] acenou há um tempo com essa possibilidade. No goalball [outra modalidade voltada a deficientes visuais], são campeões portugueses [e mundiais, entre as mulheres]. Para eles abraçarem a causa, é só acender a chama”, apostou.

Apesar de ainda pouco difundido globalmente, tanto que sequer integra a Paralimpíada, o futebol de cinco entre as mulheres é uma das prioridades do início de trabalho. A meta, segundo Márcio, é ter uma equipe pronta para um estágio de treinos na Inglaterra e (talvez) o Campeonato Europeu do ano que vem, de 2 a 7 de junho, em Pescara (Itália). A competição já tem quatro seleções confirmadas (Itália, Rússia, Alemanha e Espanha, a atual campeã) e será classificatória para o primeiro Mundial feminino da modalidade, em 2023, na cidade britânica de Birmingham.

“Minha pretensão hoje é a formação urgente da seleção feminina, pois ela puxará a masculina, trazendo eventos e outras situações para cá”, concluiu o brasileiro.

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