Os jogadores de futebol brasileiros e os respectivos familiares que estavam em um hotel na capital ucraniana Kiev conseguiram deixar o local neste sábado (26). Segundo o zagueiro Marlon, ex-Fluminense e atualmente no Shakthar Donetsk, eles iniciaram a viagem de trem até a cidade de Chernivtsi (a 535 quilômetros de Kiev, na fronteira com a Romênia), onde pegarão outro trem para deixar o país, alvo de uma ação militar russa desde quinta-feira (24).

“A embaixada brasileira deu essa opção de trem para nós. Quem deu toda a segurança de escolta até a estação de trem foi a UEFA [sigla da União Europeia de Futebol], junto com a Federação Ucraniana de Futebol. Muito obrigado a todos”, escreveu Marlon em seu perfil no Instagram.

Uma primeira viagem estava marcada para a noite de sexta-feira (25) no horário ucraniano (tarde no Brasil), mas os atletas e familiares optaram por não embarcar alegando falta de segurança no percurso de cerca de um quilômetro até a estação, já que há crianças e idosos no grupo, que reúne jogadores do Dínamo de Kiev e do Shakthar, os dois principais clubes do país. O lateral Busanello (ex-Chapecoense) e os atacantes Felipe Pires (ex-Palmeiras) e Bill (ex-Flamengo), que defendem o Dnipro-1, outro time da primeira divisão local, pegaram o trem e já estão na Romênia.

Neste sábado eles conseguiram deixar o hotel em comboio. Os carros tinham a bandeira do Brasil. A esposa de Marlon, Maria Paula Marinho, relatou o percurso até a estação em um vídeo publicado no seu perfil no Instagram enquanto cuidava de três crianças pequenas no banco de trás do veículo. Emocionada, ela afirmou estar assustada e pediu orações. A previsão é que a viagem até Chernivtsi, iniciada no começo da noite deste sábado (em Kiev, tarde em Brasília), dure em torno de 12 horas.

Porém, nem todos os brasileiros que estavam reunidos no bunker do hotel em Kiev conseguiram sair. Os jogadores de futsal Matheus Ramires e Jonatan Moreno, que atuam no Skyup Kiev, e o engenheiro eletricista David Abu-Gharbil, permaneceram na capital. Em vídeo publicado no Instagram, eles lamentaram que os atletas do futebol os tenham deixado para trás.

“Chegamos ontem no hotel e os conhecemos aqui. Viemos para cá porque era um lugar seguro, onde poderíamos passar esse momento difícil e mais um ponto: conseguirmos sair daqui. Hoje, depois do almoço, não estava tocando sirene, não teve [barulho de] bomba e decidimos subir no quarto, para tomar um banho, descansar um pouco. O que aconteceu? Um amigo mandou mensagem perguntando se estávamos no trem. Tomei um susto. Quando descemos, não tinha mais ninguém. A gente se sentiu realmente abandonado. Pode-se falar o que for, que naquele momento não estávamos ali. Mas nenhuma das 40 pessoas que estavam aqui lembraram da gente? Nossas bolsas estavam aqui. Desejamos sorte, claro. Que eles cheguem bem, em segurança. Mas que estamos bem triste, estamos. Teremos que passar pelo toque de recolher até segunda-feira [28]. Se Deus quiser, dará tudo certo e nossa hora vai chegar”, disse Jonatan.

“O Itamaraty está coordenando a operação por meio de contato direto com o chefe da estação central de trens de Kiev, das autoridades locais em Chernivtsi e das autoridades migratórias romenas, além de missão enviada pela Embaixada em Bucareste [capital da Romênia] à fronteira”, declarou o Ministério das Relações Exteriores em nota divulgada neste sábado.

Segundo a Embaixada do Brasil em Kiev, cerca de 500 brasileiros moram na Ucrânia. Na quinta, a instituição informou que tem orientado os cidadãos por meio do site, da página de Facebook e em grupo do aplicativo de mensagens Telegram.

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