Após duas edições realizadas em formato totalmente online devido à pandemia da covid-19, a Mostra Internacional de Cinema de Belo Horizonte (CineBH) volta a reunir o público presencialmente. A 16ª edição do festival, que começou na noite de ontem (20) e vai até domingo (25), coloca em debate a efervescência da produção latino-americana e homenageia a atriz mineira Rejane Faria, protagonista de Marte Um, filme selecionado pelo Brasil para o Oscar.
A CineBH é organizada anualmente desde 2007 pela Universo Produção, também responsável pelas tradicionais mostras de cinema de Tiradentes e de Ouro Preto. O evento é apoiado pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo. Nesta edição, 120 filmes nacionais e internacionais serão levados para as telas. Entre os títulos, há longas-metragens de 11 países da América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
A programação inclui atrações para diversas idades, todas gratuitas. São previstas atividades em 11 espaços culturais de referência da capital mineira, como o Cine Theatro Brasil Vallourec, o Cine Belas Artes, o Cine Humberto Mauro, o Cine Sesc Palladium e o Cine Santa Tereza. Alguns filmes também poderão ser assistidos na plataforma virtual.
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Os interessados na obra da atriz podem desfrutar de oito produções, dos quais sete estão disponíveis para acesso online. Apenas Marte Um terá exibição exclusivamente presencial, na noite de hoje (21). Segundo Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora-geral da CineBH, a trajetória de Rejane Faria e da CineBH se misturam, principalmente por meio da Mostra Cidade em Movimento, uma categoria do festival que abre espaço para filmes amadores da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“Ela começou fazendo esse tipo de cinema de baixíssimo orçamento. E hoje ela está, vamos dizer assim, no auge da carreira. Ela estreia no cinema com 57 anos e hoje está com 61. Tem uma trajetória enorme no teatro. E no cinema teve uma rápida evolução da carreira em um curto espaço de tempo. Ela é a protagonista do Marte Um, indicado brasileiro ao Oscar. E agora já trabalha com produções para o streaming“, disse Hallak.
Natural de Belo Horizonte, Rejane Faria é uma das fundadoras do Quatroloscinco – Teatro do Comum, grupo que acumula premiações nacionais e internacionais e que está completando 15 anos este ano. No cinema, seu trabalho tem forte ligação com a produtora mineira Filmes de Plástico, que vem conquistando reconhecimento no Brasil e no exterior com filmes que buscam contar histórias que envolvem pessoas comuns. A própria CineBH homenageou a produtora em 2019 pelo conjunto da obra. Na época, a produtora estava completando 10 anos.
Dirigido por Gabriel Martins, Marte Um é mais uma produção da Filmes de Plástico. O longa-metragem estreou em janeiro no Festival de Sundance, um dos principais eventos de cinema independente nos Estados Unidos. De lá para cá, já passou por mais de 40 mostras nacionais e internacionais e agora está em cartaz em salas de cinema de diferentes cidades brasileiras. Sua escolha como candidato para a disputar a categoria de melhor filme estrangeiro do Oscar foi divulgada pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais (ABCAA) no início do mês.
Cada país pode apresentar apenas um trabalho. No dia 21 de dezembro, será divulgada a lista de 15 pré-finalistas e, no dia 24 de janeiro, os cinco finalistas. O Brasil não consegue emplacar um filme nesse seleto grupo desde 1998, quando Central do Brasil, dirigido por Walter Salles, obteve o feito. A cerimônia do Oscar de 2023 está marcada para 12 de março.
Bênçãos do exterior
Em um texto publicado no portal eletrônico da CineBH, o coordenador curatorial Cleber Eduardo trata da temática dessa edição do evento e lança alguns questionamentos. Uma das indagações colocadas para reflexão é se a bênção do exterior é algo necessário para o cinema latino-americano. Ele também pergunta se é possível alimentar o desejo e a viabilidade de internacionalização sem perder de vista as potências regionais das Américas.
“A proposta é criar no Brasil um espaço de exibição e discussão dessa produção latino-americana em função do vazio que temos. Falta um evento contundente relacionado a esse tema”, disse Raquel Hallak, coordenadora do CineBH.
Ela defende uma integração continental como algo fundamental para o fortalecimento e para a legitimação do cinema produzido na América Latina. “Queremos reunir profissionais e gerar essa discussão. Em que instâncias esse cinema está sendo exibido? Ele fica só no circuito de festivais ou ele está ganhando as telas em outros espaços?”.
A coordenadora-geral da CineBH vê dificuldades para que os filmes produzidos na América Latina atravessem fronteiras. “Precisa da coprodução. Ainda mais quando há ausência de política pública. No Brasil, os produtores buscam se associar principalmente com parceiros europeus para que os filmes circulem no exterior”, disse.
A própria CineBH busca oferecer uma resposta para lidar com essa realidade. Além de sessões cinematográficas, debates, oficinas e rodas de conversa, o evento sedia as atividades do 13º Brasil CineMundi, um encontro internacional que reúne cineastas, produtores e representantes da indústria mundial com interesse em coproduzir com o Brasil e conhecer pessoalmente projetos que, muitas vezes, não chegam até eles. É, segundo a Universo Produção, uma plataforma de intercâmbio para potencializar conexões entre realizadores brasileiros independentes e potenciais parceiros.
Todos os anos, alguns projetos são escolhidos para serem apresentados em rodadas de negócio. “É um evento de mercado do cinema brasileiro. Os projetos passam por um laboratório de desenvolvimento, recebem mentoria especializada e chegam preparados para serem apresentados em reuniões individuais, nas quais se estabelecem uma rede de contatos e ocorrem negociações”, explica Raquel Hallak.
A programação do encontro também inclui masterclasses, painéis de mercado e workshops que abordam temas variados como estratégias de lançamento, planejamento de vendas e experiências de sucesso.
Desde a sua primeira edição, o Brasil CineMundi já contribuiu para tirar do papel mais de 30 filmes, incluindo títulos que ganharam considerável destaque, como Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles e premiado no Festival de Cannes em 2019. Outro caso bem-sucedido é o do longa-metragem Os Ossos da Saudade, de Marcos Pimentel, que ocupou as telas justamente na abertura da edição da CineBH que começou ontem. Seu projeto foi destaque na 6ª edição do Brasil CineMundi, realizado em 2015.
A edição deste ano receberá 25 convidados internacionais, de 13 países. São representantes de diferentes empresas da indústria mundial do audiovisual que desembarcam na capital mineira para conhecer e fazer negócios em torno dos 41 projetos selecionados em cinco categorias. Um prêmio é concedido por um júri formado por três profissionais. O projeto agraciado ganha mais de R$ 200 mil em serviços oferecidos por parceiros da CineBH, como empréstimos de câmera, equipamentos de iluminação e maquinário, além de uma vaga no Ventana Sur, o maior evento de mercado cinematográfico da América Latina, que acontece em Buenos Aires, na Argentina.
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