O comunicador popular Rene Silva cobrou hoje (3), durante a 13ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE), que o governo federal desenvolva políticas de fortalecimento das mídias comunitárias. Ele avalia que o noticiário da grande imprensa contribui para a disseminação de um retrato muito estereotipado sobre as periferias.
“Isso ocorre com as favelas, com as comunidades quilombolas, com as aldeias indígenas. Quando a comunidade pode retratar a si própria, ela queba os estereótipos”, diz. Nascido no Complexo do Almeão, Rene Silva fundou em 2005 do jornal Voz das Comunidades e é o editor-chefe. Em 2018, ele foi apontado em premiação concedida pela organização internacional MIPAD como um dos 100 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo.
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Apoiador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante as eleições do ano passado, foi ele que presenteou o então candidato com um boné escrito CPX durante um ato de campanha no Complexo do Alemão. O episódio ganhou repercussão após o então presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores disseminarem informações falsas associando a sigla a organizações criminosas. CPX é uma abreviação para Complexo de Favelas.
Rene Silva pontua que avanços na pauta da democratização da comunicação dependem do interesse do governo. “Na maioria das vezes, mesmo em governos progressistas, o investimento na área de veiculação de publicidade nunca chega nas mídias comunitárias, nas mídias independentes”, lamentou.
Embora critique a cobertura sobre as comunidades, Rene pontua que a grande mídia cumpre um papel importante para a democracia quando combate a desinformação e crimes cometidos por meio das redes sociais. No entanto, o comunicador popular considera ser necessário uma nova legislação para enfrentar a situação atual. “A gente também precisa de uma política mais séria e de leis mais rígidas para pessoas que cometem crimes divulgando notícias falsas pelas redes sociais”.
Imaginário
Considerado o maior festival estudantil da América Latina, a Bienal da UNE conta com uma programação de atividades culturais e debates sobre arte, educação, política e ciência. Rene Silva participou de uma mesa que discutiu a construção da identidade brasileira, ao lado da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que destacou a importância das políticas de ações afirmativas para estudantes negros.
A mesa também contou com a presença da ex-presidente da UNE Lucia Stumpf. Ela esteve à frente da entidade entre 2007 e 2009. Atualmente pesquisadora de imagens históricas e artísticas e professora da Universidade de São Paulo (USP), Lucia pontuou que as imagens presentes nos livros de história e nos museus nos fazem imaginar um país que não representa o povo.
“A imagem consagrada sobre a nossa Independência apresenta aquele herói branco com a espada basicamente erguida afirmando que agora o Brasil era um país livre e independente. É uma cena que apaga a luta dos brasileiros e brasileiras. Não temos nos nossos quadros o retrato de Maria Felipa, grande lutadora e mulher negra baiana que comandou tropas de mulheres que lutaram pela independência. Nos retratos, também não aparece a Batalha de Jenipapo, ocorrida no Piauí”, avalia.
Segundo Lucia, o Brasil precisa se reimaginar. “É a nossa diversidade de cores, de saberes, de ancestralidades que vai permitir que a gente construa um novo Brasil”.
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