Conflitos, violência, pobreza e alterações climáticas são alguns dos fatores que levam milhares de pessoas, todos os dias, a abandonar o seu país à procura de uma vida melhor. Nos últimos anos, o mundo tem assistido ao maior fluxo de deslocados forçados já registrado. Só no ano passado houve mais 19,1 milhões de refugiados do que em 2021, atingindo número histórico, com graves consequências para os direitos humanos. A Organização das Nações Unidas (ONU) celebra, nesta terça-feira (20), o Dia Mundial do Refugiado, destacando o poder da inclusão.
Proclamada em 2000, a data é comemorada anualmente, no dia 20 de junho, pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), com o objetivo de realçar a coragem, os direitos, as necessidades e a resiliência das pessoas nessam condição. Este ano, o foco das celebrações é o poder da inclusão e as soluções para os refugiados – pessoas que fugiram da guerra, violência, conflito ou perseguição e que atravessaram uma fronteira internacional para procurar segurança em outro país.
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Sob o lema “Esperança longe de casa. Um mundo onde os refugiados são sempre incluídos”, a comunidade internacional e o Acnur querem incluir os refugiados nas comunidades onde encontraram segurança, depois de fugirem de seu país.
A data visa mobilizar vontade política e recursos para que os deslocados forçados e solicitantes de asilo possam não só sobreviver, mas também prosperar nos países que os acolhem. Além disso, procura também lembrar todos os que tiveram de escapar da guerra, das perseguições ou de cenários de violência, assim como quem teve de fugir por motivos como raça, religião, nacionalidade, ou pertença a um grupo social particular ou com opinião política.
O conflito na Ucrânia, somado a outros, além das crises causadas pelas alterações climáticas, levaram a um recorde de deslocados em 2022 e 2023, elevando a urgência de ação imediata e coletiva para aliviar causas e impactos do fenômeno. De acordo com o relatório anual do Acnur, denominado Tendências Globais das Deslocações Forçadas 2022, o número de pessoas deslocadas por guerras, perseguições, violência e violações dos direitos humanos chegou a 108,4 milhões em 2022, um recorde, tendo sido contabilizados mais 19,1 milhões do que no ano anterior.
Ou seja, mais de uma em cada 74 pessoas no mundo foi forçada a fugir. E com o início do conflito no Sudão, a trajetória ascendente do deslocamento forçado global não mostra sinais de abrandamento em 2023, tendo sido desencadeados novos fluxos de saída, elevando o total para cerca de 110 milhões, em maio de 2023, no mundo.
“Esses números mostram que algumas pessoas são muito rápidas ao entrar em conflitos e muito lentas para encontrar soluções. A consequência é a devastação, o deslocamento e a angústia para cada um dos milhões de pessoas arrancadas à força de suas casas”, afirmou o alto comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi.
Do total global de deslocados no ano passado, 35,3 milhões eram refugiados e 58%, ou seja, 62,5 milhões de pessoas, eram deslocadas internas devido a conflitos, violência e eventos relacionados com a crise do clima. A guerra na Ucrânia foi o principal fator de deslocamentos em 2022.
Mas há novos conflitos e outros que têm mantido nos últimos anos, ou foram retomados, como na República Democrática do Congo, na Etiópia e em Mianmar, onde mais de 1 milhão de pessoas foram deslocadas do seu país de origem.
Os números do relatório também confirmam que continuam a ser os países de baixos e médios rendimentos – e não os ricos – que abrigam a maioria das pessoas deslocadas. Os 46 países menos desenvolvidos respondem por menos de 1,3% do Produto Interno Bruto global, mas abrigaram mais de 20% de todos os refugiados.
O financiamento para as inúmeras situações de deslocamento e para apoiar os países que os acolhem ficou atrás das necessidades do ano passado, permanecendo baixo em 2023 à medida que os pedidos aumentam.
Mais de metade de todos os refugiados (52%) são de apenas três países: Síria (6.5 milhões), Ucrânia (5.7 milhões) e Afeganistão (5.7 milhões).
Guterres
O secretário-geral da ONU, António Guterres, António Guterres pediu mais “apoio e solidariedade” para os homens, mulheres e crianças que enfrentam essas jornadas difíceis, em vez de “fronteiras fechadas e bloqueios”.
Em mensagem divulgada em várias plataformas da ONU, o secretário lembrou a década em que esteve de serviço como alto comissário da ONU para Refugiados, quando testemunhou em primeira mão a resiliência e as contribuições dos refugiados “em todas as esferas da vida”.
“A sua perseverança perante a adversidade inspira-me todos os dias. Os refugiados representam o melhor do espírito humano. Eles precisam e merecem apoio e solidariedade, não de fronteiras fechadas e de bloqueios”, defendeu.
No Dia Mundial dos Refugiados, o ex-primeiro-ministro português lembrou os mais de 100 milhões de pessoas que vivem em países abalados por conflitos, perseguições, fome e caos climático e que foram forçadas a fugir de suas casas.
“Não são números apenas no papel. São mulheres, crianças e homens que fazem viagens difíceis – muitas vezes enfrentando violência, exploração, discriminação e abuso. Este dia nos lembra o dever de proteger e apoiar os refugiados e a nossa obrigação de criar novas formas de apoio, incluindo soluções para realojá-los e ajudá-los a reconstruir a vida com dignidade”.
O secretário pediu maior apoio internacional aos países que recebem refugiados, conforme previsto no Pacto Global para Refugiados, e um aumento no acesso à educação de qualidade, ao trabalho digno, à assistência médica, ao alojamento e à proteção social.
“E precisamos de vontade política muito mais forte para fazer a paz, para que os refugiados possam retornar com segurança às suas casas”.
“O tema deste ano é Esperança Longe de Casa. Apelo ao mundo para que aproveite a esperança que os refugiados carregam nos seus corações. Vamos combinar sua coragem com as oportunidades de que precisam, em todas as etapas do caminho”, concluiu.
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