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As tintas que iluminaram os pincéis de Candido Portinari (1903 – 1962) misturam-se entre a Brodowski (SP), em que nasceu, e o mundo. Entre a denúncia e a ternura. Entre o figurativo e o surreal. Cores de passado e de olhares à frente do tempo. Entre as sacas de café e a enxada nas mãos do homem negro. Entre o afeto ao país à revolta contra as injustiças. Entre o alerta sobre guerras ao desejo de paz.


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Na exposição Portinari Raro, que estreou na última


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 semana no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, com entrada gratuita, mais de 200 obras menos conhecidas


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 ou até desconhecidas do grande público revelam a genialidade do artista de múltiplas tintas inconformadas.

“Os grandes temas são sociais, mas também há


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 aspectos da infância, do trabalho no campo e na cidade, os tipos populares, as festas, o folclore, a fauna, a flora e a paisagem”, explica o professor João Candido Portinari, filho do artista e responsável pelo Projeto Portinari, que tem a missão de democratizar o acesso à arte plural do pai.

Brasília, (DF) - 01-09-2023 - João Candido Portinari, apresenta a exposição do seu pai, Candido Portinari. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.
Brasília, (DF) - 01-09-2023 - João Candido Portinari, apresenta a exposição do seu pai, Candido Portinari. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

Brasília,


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 1º-09-2023 – João Candido Portinari apresenta a exposição do seu pai


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 Candido Portinari – Valter Campanato/Agência Brasil

Desde o começo

Na exposição em Brasília, que tem curadoria de Marcello Dantas, há obras de diferentes fases da vida de Portinari, como a raríssima


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 Baile na Roça,


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 produzida em 1923, quando o artista tinha apenas 20 anos de idade.


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  É a primeira com temática nacional. Segundo o filho do artista, como o quadro não foi bem aceito na época na Escola de Belas Artes, Portinari, decepcionado, vendeu a obra e nunca mais conseguiu encontrar. “Ele passou a vida inteira buscando recuperar o quatro. Morreu sem a emoção de encontrar a sua tela de juventude”.


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O Projeto Portinari a localizou no início dos anos 80. A obra está pela primeira vez em Brasília. O quadro homenageia familiares e amigos de Brodowski. Ainda sem as mesmas tintas que o deixariam célebre.

A formação pessoal e os ideais nasceriam juntos das dificuldades de pais imigrantes pobres da Itália. Eles recomeçaram a vida na lavoura de café. Foi lá que o artista descobriu a necessidade de se expressar com tintas e palavras. “Portinari nasceu numa condição difícil. Ele só conseguiu estudar até a terceira série. Ele não pôde continuar porque tinha que ajudar os 11 irmãos e os pais na colheita do café”, diz o filho pesquisador.


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A história da família em Brodowski tem espaço na exposição e ajuda a entender as origens do pensamento do artista, de sotaque caipira e perspicaz. “Portinari tinha 11 anos de idade quando fez um desenho do maestro Carlos Gomes, copiado de um maço de cigarro que existia


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 antigamente”. Os amigos da cidade ficaram abismados com o talento do garoto criativo. Tanto que se tornou um ilustrador naqueles primeiros anos de arte.


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Brasília, (DF) - 01-09-2023 - João Candido Portinari, apresenta a exposição do seu pai, Candido Portinari. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.
Brasília, (DF) - 01-09-2023 - João Candido Portinari, apresenta a exposição do seu pai, Candido Portinari. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

Brasília,


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 1º-09-2023 – Obra apresentada na exposição Portinari Raros – Valter Campanato/Agência Brasil

“Curiosidade imensa”

O professor explica que Portinari revelou em suas obras curiosidade enorme sobre ciência e tecnologia diante da efervescência cultural das primeiras décadas do século 20. “Ele passou a usar elementos matemáticos na obra dele”, o que incluiu as proporções e os estudos cromáticos. “Portinari tinha uma curiosidade imensa em saber como os outros artistas pintavam”.

A ternura de rememorar a infância, como na obra Jangada e Carcaça


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 (de 1940), que está entre as disponíveis na mostra, mostra um Portinari menos conhecido. “Uma vez, depois de uma palestra em uma escola, uma garotinha levantou o dedo e disse que o que ela mais havia gostado é que, no tempo de Portinari, as crianças brincavam à noite”. Tocou a criança, assim como emociona o filho


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 em Roda infantil. “É a obra que eu mais gosto dessa fase”. Outro trabalho que o marca


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 é Meninos com Balões


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 (1951). “Imagine emocionar-se pela infância aos 84 anos de idade, como eu”.


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  Outra obra que se refere à infância é Menino com Gaiola


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 (1961), momento em que o filho recorda que o pai estaria em um momento de depressão.


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Mudanças de pincéis

O pesquisador entende que diferentes elementos destacam o valor da natureza para a obra dele, inclusive com características tropicalistas. “Sempre tem a paixão pelo Brasil, pelo


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 brasileiro, pelos animais”, afirma. Um exemplo está em


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 Flora e Fauna Brasileiras (de 1934).

Aliás, para o pesquisador, os anos de 1930 são chave para entender uma mudança de temática: o olhar passa a ser social, quando passa a pintar famílias de retirantes e exploração. A mostra ainda traz esboços e painéis, com estudos de obras clássicas dele.


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Já os anos 1940 são, de acordo com o filho-pesquisador, muito produtivos, ora pela denúncia sobre a 2ª Guerra Mundial, em que ele chamava a atenção para o nazismo, como na obra


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 Gráfica (1942), ora pelas obras de outra matriz


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 ou sobre o meio ambiente ameaçado, como em


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 Balé Iara


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  “Para absorver tudo o que há na exposição, é preciso mais do que uma visita”, avalia.

Imersão

Espaços interativos na mostra garantem fruição dos sentidos, como no espaço Portinari Imenso,


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 que está no pavilhão de vidro, com projeção de pinturas e trilha sonora original de autoria de Cacá Machado. Os bancos improvisados são as sacas de café, e o público fica imerso no pensamento do artista que nasceu há 120 anos.


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Outra celebração agendada é que os históricos painéis gigantes de


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 Guerra


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 e Paz,


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 que estão na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), devem ser levados temporariamente para o Museu Nacional da China


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 no ano que vem, como celebração dos 50 anos das relações diplomáticas entre o Brasil e aquele país.


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Brasília, (DF) - 01-09-2023 - João Candido Portinari, apresenta a exposição do seu pai, Candido Portinari. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.
Brasília, (DF) - 01-09-2023 - João Candido Portinari, apresenta a exposição do seu pai, Candido Portinari. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

Brasília, 1º-09-2023 – Obra apresentada na


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 exposição Portinari Raros –


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 Valter Campanato/Agência Brasil

Esse será mais um momento de alegria para o professor João Candido Portinari, na missão de garantir espaço para a genialidade do pai por todo o mundo. “Quando eu era criança, perguntava para a minha mãe se meu pai não trabalhava como os outros. Sempre o via pintando e não entendia”. Só depois foi compreender a “imensidão” do homem-artista. Hoje, o maior objetivo é mostrar às crianças. O projeto disponibiliza 5,4 mil imagens e 30 mil documentos que ajudam a explicar quem é Portinari. Não para de recolher nem de democratizar o acesso. O professor procura entender o artista, e o filho vibra a cada encontro com o pai.

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