Depois de quase dois anos fechada para restauro, a Casa das Rosas, um dos poucos casarões remanescentes na Avenida Paulista, em São Paulo, abre novamente suas portas ao público a partir das 15h deste sábado (28).
Criada pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo (1851-1928) – o mesmo idealizador de outros edifícios importantes da cidade, como o Theatro Municipal, a Pinacoteca de São Paulo e o Mercado Municipal, a Casa das Rosas foi originalmente concebida para ser residência e era mais um entre os muitos casarões de milionários barões do café que havia na Avenida Paulista daquela época.
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A mansão foi concluída em 1935 e habitada pelos herdeiros do arquiteto até meados dos anos 80, quando a Avenida Paulista já não era a mesma: prédios comerciais, bancos, arranha-céus e trânsito viraram sua nova realidade. Hoje, poucos casarões daquele período. A Casa das Rosas, que virou um museu em 2004, é um deles.
Restauro
O público que visitar a nova Casa das Rosas vai poder conhecer espaços da casa que não estavam abertos para visitação, como a sala de lanche e a copa. Já os banheiros com azulejos e objetos verdes ou em cor de rosa e o quarto do casal, por exemplo, que eram conhecidos, foram restaurados. O investimento no restauro foi de R$ 4,2 milhões, custeados pelo governo de São Paulo.
“A Casa das Rosas renasce com suas características originais visíveis e recuperadas”, disse Marcelo Tápia, diretor da Casa das Rosas, em entrevista à Agência Brasil. Entre essas características originais, destacou ele, estão alguns papéis de parede originais que foram restaurados à mão.
Um dos focos do restauro foi a reparação de problemas identificados na estrutura física do imóvel, como rachaduras, infiltrações e melhoria nos sistemas elétrico e hidráulico. Além disso foram mantidos detalhes originais da casa como as gárgulas e os adornos metálicos. O projeto também deixou o museu mais acessível com piso tátil, corrimãos duplos e placas contendo inscrição em Braille. “Foram feitas, por exemplo, valas entre o solo e o subsolo para ter um arejamento onde fica o acervo do Haroldo de Campos. Foram feitas intervenções estruturais e estéticas”, explicou Tápia.
“Foi um processo longo e profundo, porque foi preciso investigar a textura e a composição da massa original. Foi a primeira vez que a casa recebeu um restauro que desocultou características originais. É possível viver aqui essa aparência ligada ao passado, à memória da casa, a esse estilo arquitetônico eclético que representa muitas tendências, um tempo de morar e um tempo da Avenida Paulista que era feita só de residências da elite. Agora, como espaço público, a pessoa vai poder ter contato com essa história, inserido nesse contexto atual frenético da avenida”, disse o diretor da Casa das Rosas.
Cada um desses espaços da casa conta agora com uma placa informativa, que dizia como ele era usado na época. “Tem algumas indicações com fotos e textos mostrando como era usado o ambiente no tempo da residência”, explicou Tápia.
Ressignificação
Renovada e com mais ambientes abertos para visitação, a Casa das Rosas agora apresenta um novo conceito museológico e expográfico. Com isso, a casa-museu vai se dedicar não somente à sua vocação literária e poética, mas também para as artes visuais e outras identidades artísticas, como as performances.
“O aspecto da literatura e da poesia será mantido. Ele prossegue sendo o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, mas em diálogo com outras expressões. Então, estamos ampliando esse leque para acolher as tendências e as linguagens diferentes que convivem nessa cidade. Há representação de linguagens, artistas, tendências e grupos das diferentes regiões”, disse Marcelo Tápia.
Com essa ressignificação, o museu preparou uma exposição inédita para a sua reabertura e que reúne esculturas, instalações, vídeos, gravuras e pinturas. A exposição temporária e chamada de Vivências do Novo, é composta por dois módulos.
O primeiro, no térreo, apresenta imagens históricas da Avenida Paulista e do museu como testemunha das transformações urbanas, culturais e artísticas da cidade. No térreo também é falado sobre o trabalho de restauro do museu. Já a segunda parte da mostra, chamada Dimensão Cidade, exibe no andar superior, obras de 15 artistas contemporâneos. A exposição tem curadoria de Paula Borghi.
“Para a abertura, fizemos uma exposição que toma conta da casa. O mesmo espaço que vamos utilizar para atividades culturais, agora está sendo usado para a exposição. Vamos mostrar a vocação da casa, mas mostrando a diversidade de expressões artísticas da cidade, a história da casa e a importância desse patrimônio nesse corredor cultural”, disse Tapia.
A nova exposição, disse a curadora, foi pensada para a reabertura e tem início do lado de fora da Casa das Rosas, no jardim de rosas. “Temos uma instalação lá fora, da Natalie Salazar, uma poesia em neon no jardim. E, no primeiro andar, em todos os cômodos da casa, desde o banheiro à varanda, do corredor à sala, há trabalhos artísticos. São 15 artistas diversos em identidade, pesquisa e linguagens artísticas. Temos artistas de 29 a 92 anos. Temos trabalhos em gravura, uma linguagem antiga das artes visuais, até trabalhos com novas mídias audiovisuais”, explicou Paula Borghi.
Entre os trabalhos em exposição está um produzido pelo artista indígena Xadalu Tupã Jekupé. “O Xadalu é um artista de Porto Alegre e que trabalha aqui em São Paulo e que tem um diálogo muito grande com a aldeia Guarani-Jaraguá. Ele traz para a gente um depoimento de um parente falando sobre como é morar em uma aldeia, muito próxima da cidade, e vir trabalhar no centro da cidade de São Paulo, vendendo artesanato. Temos um relato desse parente do Xadalu, escrito em guarani, com tipografia da pichação. Mas temos também uma tradução em português, contando esse lamento da terra. Acho que abrir uma exposição falando da Dimensão Cidade e não trazer as vozes diversas dessa cidade não seria coerente”, disse a curadora.
Outro artista que terá trabalho exposto nessa mostra é o poeta Augusto de Campos. “A exposição faz bastante esse cruzamento entre literatura e artes visuais. A gente tem um artista icônico, o Augusto de Campos, participando com um poema, que é uma versão inédita e que passa em um painel de led”, adiantou Paula Borghi.
Como parte da mostra, a exposição contará também com intervenções, visita guiada, bate-papo e performances que ocorrem entre outubro e novembro. Mais informações sobre o museu, que tem entrada gratuita, podem ser obtidas no site https://www.casadasrosas.org.br/index.php
O museu Casa das Rosas é uma instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo, gerenciada pela Organização Social de Cultura Poiesis.
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