Fundadora da organização não governamental (ONG) Raiar, a professora e diretora do Programa Imagens em Movimento (PIM), Ana Dillon, ex-montadora de filmes do cineasta Eduardo Coutinho, falecido em 2014, embarca neste sábado (28) para a França, acompanhada por seis estudantes dos níveis médio e fundamental da rede pública de ensino. O grupo participará do encontro internacional À nous le cinema! Une experience internationale de cinéma à l'école em Pantin, na periferia de Paris.
O evento acontece de 1º a 3 de junho, pela primeira vez presencialmente desde o início da pandemia de covid-19, e permitirá aos estudantes brasileiros apresentarem os filmes realizados em suas escolas. Os seis alunos são moradores do Rio de Janeiro, de Camaçari (BA) e Várzea Paulista (SP). O retorno ao Brasil está previsto para 5 de junho.
O Programa Imagens em Movimento (PIM) foi criado há 12 anos por Ana Dillon, com o objetivo de oferecer oficinas de criação e realização artística em escolas públicas. “A gente trabalha com cinema, música, expressão corporal”, disse Ana à Agência Brasil. As oficinas ocorrem em horários fora das aulas normais, de modo a promover ocupação integral no horário escolar. “Se os alunos estudam pela manhã, eles participam à tarde; se eles são da tarde, as oficinas acontecem de manhã. É uma forma de fazer com que o horário deles na escola seja mais extenso”.
Rede
O PIM é uma parceria pioneira na América Latina, com uma rede mundial de 16 organizações dedicadas ao ensino de cinema e audiovisual em escolas, chamada Cinema, 100 anos de juventude. A rede conta com a orientação geral do cineasta e professor Alain Bergala, considerado referência mundial no campo da pedagogia do cinema. Ele defende o ensino do cinema para crianças e adolescentes na escola.
Bergala foi orientador de mestrado de Ana Dillon na França e já estudava, à época, como a educação ganha com o ensino do cinema nas escolas, como a educação cinematográfica pode contribuir para uma educação inovadora, que seja diferente dos moldes tradicionais e, ao mesmo tempo, como o cinema pode se alimentar de novos olhares, “desses olhares frescos e jovens, que são os de crianças e adolescentes”, destacou a cineasta.
A ideia, afirmou Ana, é juntar professores, cineastas e estudantes para olhar para o cinema e, juntos, discutir e debater o que é fazer cinema, partindo da ideia de que não há forma certa ou errada. “O que interessa é que a gente aprenda junto, que a gente troque olhares, ideias, percepções. O trabalho parte muito dessa premissa”.
O evento marca o encontro anual da rede Cinema, 100 anos de juventude, criada em 1995. Cada um dos 16 países participantes vai exibir dois filmes. O Brasil será representado por um curta-metragem do Rio de Janeiro e outro de Camaçari (BA). Além dos dois estudantes que representarão suas escolas no evento com os filmes produzidos, mais quatro alunos de escolas públicas vão participar dos debates, embora não tenham seus filmes projetados.
O resultado, segundo Ana Dillon, é bastante positivo. “Surge uma troca de experiências. São países de contextos sociais e culturais muito diversos”. Entre os participantes estão Japão, Finlândia, Uruguai, México, Itália, Inglaterra, Escócia e Brasil. As trocas abrangem não só a esfera cinematográfica, mas também de vida, porque os filmes são todos inspirados nas vivências dos estudantes. Nas películas, eles falam de suas vidas, dos lugares onde moram, das questões que estão na ordem do dia para cada um. “Os debates tratam tanto da construção cinematográfica, quanto das histórias contadas, das inspirações que mobilizaram a rede”.
Cada organização que participa da rede encontra recursos para financiar as oficinas e viagens por conta própria. No caso da Raiar, que participa da rede desde 2011, a ONG tem com patrocínios culturais de empresas pelas leis federal e municipal de Incentivo à Cultura.
Balanço
Ana Dillon informou que ao longo desses 12 anos do programa, foram exibidos no encontro internacional 18 filmes produzidos por alunos de escolas públicas brasileiras. Em 2020 e 2021, em razão da pandemia de covid-19, o evento ocorreu de forma virtual, impedindo os filmes de serem exibidos presencialmente.
Já participaram do Programa Imagens em Movimento cerca de 1.400 alunos e 100 educadores de todo o país, com a produção de mais de 160 filmes nas oficinas. Este ano, os eixos temáticos do PIM estão voltados para as questões da identidade, do território, da cultura afro-brasileira e da diversidade de gêneros. A intenção é “integrar os estudantes brasileiros neste contexto de vanguarda mundial em condição de igualdade, contribuindo para a travessia de alguns abismos sociais que, tradicionalmente, isolam os estudantes da rede pública”, disse Ana Dillon. Os curtas-metragens produzidos pelos alunos são enviados também para festivais nacionais e internacionais estudantis.
No final do ano, são feitas mostras abertas e gratuitas no âmbito do programa. São exibidos na ocasião filmes de parceiros estrangeiros também. “Isso deve acontecer em dezembro, em salas de cinema, em eventos abertos ao público e gratuitos, no Rio de Janeiro”. Serão feitas ainda versões menores em outras cidades, como Vitória, Várzea Paulista, Camaçari e Macaé.
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